quarta-feira, 30 de maio de 2012

Estruturalismo de Evans Pritchard

Evans Pritchard foi um antropólogo britânico, um teórico fundamental para o desenvolvimento da Antropologia Social na Inglaterra. Ele descende da tradição estrutural-funcionalista de Radcliff-Brown, entretanto, o primeiro trabalha com categorias que venham a diferenciar o tom dos conceitos de função, estrutura e organização que foram formulados pelo segundo.


Na sua obra, Os Nuer, Evans tenta estabelecer os princípios estruturais da sociedade Nuer. Para compreender as estruturas ,ou melhor, as relações sociais dos Nuer , primeiramente, o autor trabalha com as noções de tempo e espaço do povo Nuer. Os conceitos de tempo são divididos em dois grupos: o tempo na relação do grupo com o meio-ambiente, o tempo ecológico; e o tempo na relação dos grupos e indivíduos entre si, o tempo estrutural. O tempo ecológico compreenderia: as estações do ano; a divisão dos meses e a do dia. O tempo estrutural seria tudo aquilo que se usa para assinalar algo no tempo, como: os indivíduos de acordo com a sua idade; as denominações dos locais de acampamento e os eventos passados. Assim como o tempo, Evans estabelece a divisão dos conceitos de espaço, que seriam: espaço ecológico e espaço estrutural. O espaço ecológico seriam: os apectos físicos e geográficos das regiões em que se estabelecem os Nuer. O espaço estrutural, seria: a posição das localidades, e a organização do espaço no território nativo.




Mas o que diferencia Evans Pritchard dos outros teóricos estrutural-funcionalistas, é justamente, o trabalho com a questão dos conflitos. Os conflitos possuem uma característica funcional entre o povo Nuer. Mas claro, deve-se levar em conta, a estrutura social na qual se ocorre o conflito e o tipo de conflito, caso o conflito viria a desestruturar e não estruturar. Para compreender melhor a função positiva dos conflitos, Pritchard divide a sociedade Nuer em segmentos. Os segmentos seriam: primários (as tribos); secundários (as divisões territoriais) e os terciários (as aldeias). O que ocorre nessa divisão de segmentos, é justamente, uma descentralização política, em que ocorre, até certo ponto, uma independência entre eles. Por exemplo, uma aldeia A vai confrontar a B, a A é bem mais forte, e logo C se juntará a B para combater A. E por aí vai, até se estendendo á outros segmentos territoriais e à outras tribos, podendo causar uma guerra inter-tribal.



Para que o conflito tenha uma característica funcional positiva necessária à manutenção da estrutura social dos Nuer, é necessário instituições para que possam ser asseguradas as leis. E a principal instituição seria a vendeta. A vendeta seria a maneira pelo qual se consegue ressarcimentos após a quebra de leis e, também, o asseguramento da propriedade e da vida dos indivíduos. Quando um Nuer mata outro, rapidamente o assassino deve ir, rapidamente, à casa do chefe de pele de leopardo, para que este possa aplicar a vendeta. O chefe não é, demaneira alguma, uma autoridade, ele apenas cumpre um papael de mediador. No caso do assassino, este está protegido, pois na casa do mestre não se pode deramar sangue, pois a família da vítima viria se vingar. A família do assassino pagaria em torno de 40 a 50 cabeças de gado à família da vítima, este é um dos exemplos de ressarcimento conseguido pela vendeta. É claro que não existe uma fórmula fixa para a vendeta, ela pode variar de acordo com: condição econômica, grau de parentesco... Segundo Evans, o papel de instituição da vendeta, que age como meio de coesão, é constatado pelo temor de praticá-la, ocorrendo assim, uma espécie de “ordem” dentro de uma sociedade marcada pelos conflitos, mas que estes conflitos servem como uma forma de estruturar a sociedade Nuer.

Anderson Marques.

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