Radcliffe-Brown
e Malinowski trouxeram muitas contribuições para a Antropologia
Moderna. Apesar das suas linhas de raciocínio diferirem, em teoria, muito
também se complementava em suas bases teóricas.
Para Malinowski, o
objetivo último do sistema eram os indivíduos, não a sociedade. As
instituições existiam para as pessoas, não o contrário, e eram as
necessidades das pessoas, em última analise suas necessidades
biológicas, que constituíam o motor primeiro da estabilidade social e da
mudança. Isso era individualismo metodológico sob outro disfarce, e num
clima acadêmico coletivista dominado pelos durkheimianos, o programa
não teve boa acolhida. Para Malinowski, o individuo era o fundamento da
sociedade.
Para os estruturais-funcionalistas durkheimianos o
individuo era um epifenômeno da sociedade e de pouco interesse
intrínseco – o que interessava era inferir os elementos da estrutura
social. Essas duas linhagens da antropologia social britânica –
funcionalismo biopsicológico e estrutural-funcionalismo sociológico –
evidenciam uma tensão básica na disciplina entre o que mais tarde foi
chamado de agência e estrutura. O individuo tem agencia no sentido de
que ele é criador da sociedade. Os dois pontos de vista são
complementares, mas isso não foi percebido pela antropologia britânica
no período entre as duas grandes guerras.
Radcliffe-Brown foi
seguidor de Durkheim ao considerar o individuo principalmente como
produto da sociedade. Na obra de Radcliffe-Brown a estrutura social
existe independentemente dos atores individuais que a reproduzem. As
pessoas reais e suas relações são meras agenciações da estrutura, e o
objetivo último do antropólogo é descobrir o verniz de situações
empiricamente existentes os princípios que regem essa estrutura.
De
acordo com Radcliffe-Brown, essa é a função e a causa da existência
desses sistemas. Temos aqui um problema: Radcliffe-Brown parece afirmar
que as instituições existem porque elas mantem o todo social; isto é,
que sua função é também sua causa. A relação causa e efeito se torna
vaga e ambígua, e esse raciocínio tautológico ou ‘para trás’ é em geral
visto com restrições nas explicações científicas. Essa crítica, porém,
se aplica igualmente a todas as formas de
funcionalismo, inclusive, mas não limitada, à variação de Radcliffe-Brown sobre o tema.
Por Sávia Cardoso.
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